Noções de primeiros socorros
Noções de Primeiros Socorros
Procura-se diminuir os ferimentos do ferido e, sobretudo,
impedir a sua morte imediata. Evidentemente, o primeiro socorro, que pode ser
feito mesmo por uma pessoa leiga, servirá para que o acidentado aguarde a
chegada do médico, ou seja, transportado para o hospital mais próximo. Para que
alguém se torne útil num socorro urgente, deve ter algumas noções sobre a
natureza da lesão e como proceder no caso.
Natureza da Lesão
Inicialmente, cumpre saber que se dá o nome de traumatismo a
toda lesão produzida no indivíduo por um agente mecânico (martelo, faca,
projétil), físico (eletricidade, calor, irradiação atômica), químico (ácido
fênico, potassa cáustica) ou, ainda, biológico (picada de animal venenoso). De
acordo com essa classificação, devem-se considerar alguns tipos de lesões (e
suas conseqüências imediatas) a requerer socorro urgente.
Contusão: É o traumatismo produzido por uma lesão, que tanto
poderá traduzir-se por uma mancha escura (equimose) como por um tumor de sangue
(hematoma); este, quando se localiza na cabeça, é denominado, vulgarmente,
'galo'. As contusões são dolorosas e não se acompanham de solução de
continuidade da pele. A parte contundida deve ficar em repouso sob a ação da
bolsa de gelo nas primeiras horas e do banho de luz nos dias subseqüentes.
Ferida: É o traumatismo produzido por um corte sobre a
superfície do corpo. Corte ou ferida pode ser superficial, afetando apenas a
epiderme (escoriação ou arranhadura), ou profundo, provocando hemorragia às
vezes mortal. Sendo o ferimento produzido por um punhal, canivete ou projétil,
os órgãos profundos, como o coração, podem ser atingidos, causando a morte. As
feridas podem ser ainda punctiformes (espetadela de prego), lineares (navalha),
irregulares (ferida do couro cabeludo, por queda). Não se deve esquecer que um
pequeno ferimento produzido nos dedos ou na mão pode acarretar paralisias
definitivas em virtude de serem aí muitos superficiais os tendões e os nervos.
Além disso, as feridas podem contaminar-se facilmente, dando lugar a uma infecção
purulenta, com febre e formação de íngua. As feridas poluídas de terra,
fragmentos de roupa etc., estão sujeitas a infecção, inclusive tetânica. Numa
emergência, deve-se proteger uma ferida com um curativo qualquer e procurar
sustar a hemorragia.
Ferida Venenosa: É aquela produzida por um agente vulnerante
envenenado (mordedura de cobras, picada de escorpião, flechas), que inocula
veneno ou peçonha nos tecidos, acarretando reação inflamatória local ou
envenenamento freqüentemente mortal do indivíduo. O tratamento resume-se em
colocar um garrote acima da lesão, extrair o veneno por sucção, retirar o
ferrão no caso de inseto, aplicar soro antivenenoso quando indicado, soltar o
garrote aos poucos e fazer um curativo local com antisséptico e gaze esterilizada.
Esmagamento: É uma lesão grave, que afeta os membros. Ocorre
nos desastres de trem, atropelamentos por veículos pesados, desmoronamentos
etc. O membro atingido sofre verdadeiro trituramento, com fratura exposta,
hemorragia e estado de choque da vítima, que necessitará de socorro imediato
para não sucumbir por anemia aguda ou choque. Quando o movimento tem de ser
destacado do corpo, a operação recebe o nome de amputação traumática. Há também
os pequenos esmagamentos, afetando dedos, mão, e cuja repercussão sobre o
estado geral é bem menor. Resistindo a vítima à anemia aguda e ao choque,
poderá estar ainda sujeita à infecção, especialmente gangrenosa e tetânica.
Choque: É um estado depressivo decorrente de um traumatismo
violento, hemorragia acentuada ou queimadura generalizada. Pode também ocorrer
em pequenos ferimentos, como os que penetram o tórax. Caracteriza-se pelos
seguintes sintomas: palidez da face, com lábios arroxeados ou descorados, se há
hemorragia; pele fria, principalmente nas mãos e nos pés; suores frios e
viscosos na face e no tronco; prostração acentuada e voz fraca; falta de ar,
respiração rápida e ansiedade; pulso fraco e rápido; sede, sobretudo se há
hemorragia; consciência presente, embora diminuída. Como primeiro socorro, precisa-se
deitar o paciente em posição horizontal e, havendo hemorragia, elevar os
membros e estancar o sangue, aquecendo-se o corpo moderadamente, por meio de
cobertores.
Hemorragia: É a perda sangüínea através de um ferimento ou
pelos orifícios naturais, como as narinas. Quando a hemorragia ultrapassa 500g
no adulto, ocorre a anemia aguda, cujos sintomas se assemelham aos do choque
(palidez, sede, escurecimento da vista, pulso fraco, descoramento dos lábios,
falta de ar e desmaios). A hemorragia venosa caracteriza-se por sangue escuro,
jato lento e contínuo (combate-se pela compressão local e não pelo garrote). A
hemorragia arterial se distingue pelo sangue vermelho rutilante em jato forte e
intermitente (combate-se pela compressão local, quando pequena, e pelo garrote,
quando grande). O paciente, em caso de anemia aguda, deve ser tratado como no
caso do chocado, requerendo ainda transfusões de sangue, quando sob cuidados
médicos.
Queimadura: É toda lesão produzida pelo calor sobre a
superfície do corpo, em graus maiores ou menores de extensão (queimadura
localizada ou generalizada) ou de profundidade (1º, 2º, e 3º graus).
Consideram-se ainda queimaduras as lesões produzidas por substância cáustica
(ácido fênico), pela eletricidade (queimadura elétrica), pela explosão atômica
e pelo frio. As diversas formas de calor (chama, explosão, vapor das caldeiras,
líquidos ferventes) são, na verdade, as causas principais das queimaduras. São
particularmente graves nas crianças e na forma generalizada. Assim, a
mortalidade é de 9% nas queimaduras da cabeça e membros superiores; 18% na face
posterior ou anterior do tronco, e 18% nos membros inferiores. Como foi dito,
classificam-se as queimaduras em três graus: 1º grau, ou eritema, em que a pele
fica vermelha e com ardor (queimadura pelo sol); 2º grau ou flictema, com
formação de bolhas, contendo um líquido gelatinoso e amarelado. Costuma também
ser dolorosa, podendo infectar-se quando se rompe a bolha; e do 3º grau, ou
escara, em que se verifica a mortificação da pele e tecidos subjacentes,
transformando-se, mais tarde, numa ulceração sangrante, que se transforma em
grande cicatriz. Quando às queimaduras pequenas, basta untá-las com vaselina ou
pomadas antissépticas, mas, quando ocorrem as queimaduras extensas, o primeiro
socorro deve dirigir-se para o estado geral contra o choque, em geral iminente.
Distorção: Decorre de um movimento violento e exagerado de
uma articulação, como o tornozelo. Não deve ser confundida com a luxação, em
que a extremidade do osso se afasta de seu lugar. É uma lesão benigna, embora
muito dolorosa, acompanhando-se de inchação da junta e impossibilidade de
movimento. A imobilização deve ser primeiro socorro, podendo empregar-se também
bolsa de gelo, nas primeiras horas.
Luxação: Caracteriza-se pela saída da extremidade óssea, que
forma uma articulação, mantendo-se fora do lugar em caráter permanente. Em
certos casos a luxação se repete a um simples movimento (luxação reincidente).
As luxações mais comuns são as da mandíbula e do ombro. O primeiro socorro
consiste no repouso e imobilização da parte afetada.
Fratura: É toda solução de continuidade súbita e violenta de
um osso. A fratura pode ser fechada quando não houver rompimento da pele, ou
aberta (fratura exposta) quando a pele sofre solução de continuidade no local
da lesão óssea. As fraturas são mais comuns ao nível dos membros, podendo ser
únicas ou múltiplas. Na primeira infância, é freqüente a fratura da clavícula.
Como causas de fraturas citam-se, principalmente, as quedas e os
atropelamentos. Localizações principais: (a) fratura dos membros, as mais
comuns, tornando-se mais graves e de delicado tratamento quanto mais próximas
do tronco; (b) fratura da bacia, em geral grave, acompanhando-se de choque e
podendo acarretar lesões da bexiga e do reto, com hemorragia interna; (c)
fratura do crânio, das mais graves, por afetar o encéfalo, protegido por
aquele; as lesões cerebrais seriam responsáveis pelo choque, paralisia dos
membros, coma e morte do paciente. A fratura do crânio é uma ocorrência mais
comum nas grandes cidades, devido aos acidentes automobilísticos, e apresenta
maior índice de mortalidade em relação às demais. O primeiro socorro precisa
vir através de aparelho respiratório, pois os pacientes podem sucumbir por
asfixia. Deve-se lateralizar a cabeça, limpar-lhe a boca com o dedo protegido
por um lenço e vigiar a respiração. Não se deve esquecer que o choque pode
também ocorrer, merecendo os devidos cuidados; (d) fratura da coluna: ocorre,
em geral, nas quedas, atropelamentos e nos mergulhos em local raso, sendo tanto
mais grave o prognóstico quanto mais alta a fratura; suspeita-se desta fratura,
quando o paciente, depois de acidentado, apresenta-se com os membros inferiores
paralisados e dormentes; as fraturas do pescoço são quase sempre fatais. Faz-se
necessário um cuidado especial no sentido de não praticar manobras que possam
agravar a lesão da medula; coloca-se o paciente estendido no solo em posição horizontal,
com o ventre para cima; o choque também pode ocorrer numa fratura dessas.
Irradiação Atômica: As explosões atômicas determinam dois
tipos de lesões. A primeira, imediata, provocada pela ação calórica
desenvolvida, e a segunda, de ação progressiva, determinada pela
radioatividade. Nos pacientes atingidos, o primeiro socorro deve ser o da sua
remoção do local, combate ao choque e tratamento das queimaduras quase sempre
generalizadas. Não se pode ignorar o perigo que existe em lidar com tais enfermos,
no que se refere à radioatividade.
Primeiros Socorros
Retirada do Local: O paciente pode ficar preso às ferragens
de um veículo, escombros de um desabamento ou desacordado pela fumaça de um
incêndio. Sua remoção imediata é, então, necessária. Assim procedendo, evita-se
a sua morte, o que justifica processo de remoção até certo ponto perigoso mas
indispensável. O socorrista deve conduzir-se com prudência e serenidade,
embora, em certas ocasiões, a retirada do paciente deve ser a mais rápida possível.
Em certas circunstâncias, será necessário recorrer ao Corpo de Bombeiros e a
operários especializados, a fim de libertar a vítima. Enquanto se espeta esse
socorro, deve-se tranqüilizar a vítima, procurando estancar a hemorragia, se a
houver, e recorrer a medidas que facilitem a respiração, já que em certas
circunstâncias pode ser precário o teor de oxigênio da atmosfera local. Isso é
muito importante para a sobrevivência do paciente.
Posição do Acidentado: O decúbito dorsal, com o corpo
estendido horizontalmente, é a posição mais aconselhável. A posição sentada
favorece o desmaio e o choque, fato nem sempre do conhecimento do leigo. Quando
a vítima está inconsciente, é preciso colocá-la de lado, ou apenas com a cabaça
lateralizada, para que possa respirar melhor e não sofra asfixia no decurso do
vômito. Havendo fratura da mandíbula e lesões da boca, é preferível colocar o
paciente em decúbito ventral. Somente os portadores de lesões do tórax, dos
membros superiores e da face, desde que não sofram desmaios.
Identificação das Lesões: Estando o paciente em local
adequado, deve-se, imediatamente, identificar certas lesões mais sérias, como
ferimentos que sangram, fratura do crânio, choque, anemia aguda ou asfixia,
capazes de vitimar o paciente, se algo de imediato não for feito. Eis a
orientação que se deve dar ao diagnóstico dessas lesões: (a) hemorragia, que se
denuncia nas próprias vestes pelas manchas de sangue; basta, então, rasgar a
fazenda no local suspeito, para que se localize o ferimento; (b) fratura do
crânio, cujo diagnóstico deverá ser levantado quando o indivíduo, vítima de um
acidente, permanece desacordado e, sobre tudo, se ele sangra pelo ouvido ou
pelo nariz; (c) fratura de membros, posta em evidência pela deformação local,
dificuldade de movimentos e dor ao menor toque da lesão; (d) fratura da coluna
vertebral, quando o paciente apresenta paralisia de ambos os membros inferiores
que permanecem dormentes, indolores mas sem movimentos; (e) choque e anemia
aguda, com o paciente pálido, pulso fraco, sede intensa, vista escura, suores
frios e ansiedade com falta de ar; (f) luxação, tornando-se o membro incapaz de
movimentos, doloroso e deformado ao nível da junta; (g) distorção, com
dificuldade de movimento na articulação afetada, apresentando-se este bastante
dolorosa e inchada; (h) queimadura, fácil de diagnóstico pela maneira que se
produziu; resta verificar a sua extensão e gravidade, o que pode ser orientado
pela queimadura das peças do vestuário que ficam carbonizadas em contato com o
tegumento; no caso de queimadura generalizada, suspeitar, logo, de um estado de
choque e não esquecer da alta gravidade nas crianças; (i) asfixia, que pode
ocorrer nos traumatismos do tórax, de crânio, queimaduras generalizadas e
traumatismo da face. Identifica-se esta condição pela coloração arroxeada da
face (cianose), a dificuldade de respirar e de consciência que logo se instala.
Medidas de Emergência
Após a identificação de uma das lesões já focalizadas,
pode-se seguir a seguinte orientação:
Estancar a hemorragia (Hemostásia): Quando a hemorragia é
pequena ou venenosa, é preferível fazer uma compressão sobre o ferimento,
utilizando-se um pedaço de gaze, um lenço bem limpo ou pedaço de algodão; sobre
este curativo passa-se uma gaze ou uma tira de pano. Quando, todavia, a
hemorragia é abundante ou arterial, começa por improvisar um garrote (tubo de
borracha, gravata ou cinto) que será colocado uns quatro dedos transversos
acima do ferimento, apertando-se até que a hemorragia cesse. Caso o socorro
médico demore, cada meia hora afrouxa-se o garrote por alguns segundos,
apertando-o novamente; na hemorragia pelas narinas basta comprimir com o dedo,
externamente, a asa do nariz; finalmente, em caso de hemorragia pós-parto ou
pós-aborto, deve-se colocar a paciente numa posição de declive, mantendo-se o
quadril e os membros inferiores em nível mais elevado. Em casos excepcionais, o
ferimento pode estar localizado numa região difícil de se colocar um garrote;
procede-se, então, pelo método da compressão ao nível da ferida; pode-se,
inclusive, utilizar o dedo ou a mão, num caso de extrema hemorragia.
Combater o choque e a anemia aguda: Começa-se por colocar o
paciente, sem travesseiros ou qualquer suporte sob a cabeça, mantendo ou
membros inferiores em nível mais elevado; removem-se todas as peças do
vestuário que se encontram molhadas, para que não se agrave o resfriamento do
enfermo; cobre-se, em seguida, o seu corpo com cobertores ou roupas de que se
dispõe no momento, a fim de aquecê-lo. A vítima pode ingerir chá ou café quente
se estiver consciente e sem vômitos; ao mesmo tempo, deve-se tranqüilizá-la,
prometendo-lhe um socorro médico imediato e dizendo-lhe da vantagem de ficar
imóvel. mesmo no caso dos queimados, observa-se um resfriamento das extremidades
do paciente, havendo necessidade de usar cobertores sobre o mesmo. Não convém
esquecer-se, também, a sobreposição de cobertores do leito; embora o
aquecimento do enfermo possa tornar-se perigoso, se provocar sudorese.
Imobilizar as fraturas: O primeiro socorro essencial de um
fraturado é a sua imobilização por qualquer meio; podem-se improvisar talas com
ripas de madeira, pedaço de papelão, ou, no caso de membro inferior, calha de
zinco; nas fraturas de membros superior, as tipóias são mais aconselháveis.
Quando o paciente é fraturado de coluna, a imobilização deve cingir-se ao
repouso completo numa posição adequada, de preferência o decúbito dorsal com
extensão do corpo.
Vigiar a respiração: É muito importante nos traumatizados
observar a respiração, principalmente quando eles se encontram inconscientes. A
respiração barulhenta, entrecortada ou imperceptível deve despertar no
observador a suspeita de dificuldade respiratória, com a possibilidade de
asfixia. Começa-se por limpar a boca do paciente de qualquer secreção, sangue
ou matéria vomitada, o que se pode fazer entreabrindo a boca da vítima e
colocando uma rolha entre a arcada dentária a fim de, com o dedo envolvido em
um lenço, proceder a limpeza. Em complemento, ao terminar a limpeza, lateriza-se
a cabeça, fecha-se a boca do paciente segurando-lhe a cabeça um pouco para
trás. Isso permitirá que a respiração se faça melhor. Havendo parada
respiratória, é preciso iniciar, imediatamente, a respiração artificial
boca-a-boca ou por compressão ritmada da base do tórax (16 vezes por minuto).
Não se deve esquecer que a ventilação do local com ar puro se torna muito
importante para qualquer paciente chocado, anemiado ou asfíxico. Os fraturados
da mandíbula, com lesões da língua e da boca, deverão ser colocados em decúbito
ventral com a cabeça leterizada, para que a respiração se torne possível.
Remoção de corpos estranhos: Os ferimentos que se apresentam
inoculados de fragmentos de roupa, pedaços de madeira etc., podem ser lavados
com água fervida se o socorro médico vai tardar; no caso, porém, de o corpo
estranho estar representado por uma faca ou haste metálica, que se encontra
encravada profundamente, é preferível não retirá-lo, pois poderá ocorrer
hemorragia mortal. No caso de empalação, deve-se serrar a haste pela sua base e
transportar o paciente para o hospital, a fim de que lá seja removido o corpo
estranho. Quando o corpo estranho estiver prejudicando a respiração, como no
caso dos traumatismos da boca e nariz, cumpre fazer tudo para removê-lo de modo
a favorecer a respiração. Não se deve esquecer que os pequenos corpos estranhos
(espinhos de roseira, farpas de madeira, espinhos de ouriço-do-mar) podem
servir de veículo para o bacilo de tétano, o que poderá ser fatal.
Socorro ao queimado: Faz-se necessário considerar as
queimaduras limitadas e as generalizadas. No primeiro caso, o socorro urgente
consistirá em proteger a superfície queimada com gaze ou um pano limpo; no
segundo caso, o choque deve ser a primeira preocupação. Deve-se pensar nele
mesmo antes que se instale, cuidando logo de colocar o paciente em repouso
absoluto, protegê-lo contra o resfriamento, fazê-lo ingerir bebidas quentes e
tranqüilizá-lo. Nesse último caso, o tratamento local ocupa um segundo plano.
Eis um resumo do tratamento local das queimaduras: (a) queimadura do 1º grau:
protege-se a superfície queimada com vaselina esterilizada ou pomada
analgésica; (b) queimadura do 2º grau: evitar a ruptura das bolhas, fazendo um
curativo com gaze esterilizada em que se pode estender uma leve camada de
pomada antisséptica ou com antibiótico; a seguir, o curativo precisa ser
resguardado com algodão; quando a superfície queimada se acha suja com
fragmentos queimados etc., torna-se necessária uma limpeza com sabão líquido ou
água morna fervida, utilizando-se, para isto, uma compressa de gaze; enxuga-se
em seguida a superfície queimada, fazendo-se um curativo com pomada acima
referida; no caso de queimaduras poluídas com resíduos queimados, haverá
necessidade de um antibiótico e de soro antitetânico. A renovação do curativo
só deve ser feita cinco a sete dias depois, a não ser que haja inflamação,
febre e dor; para retirá-lo basta umedecer com soro fisiológico morno ou água
morna fervida; (c) queimadura do 3º grau: o tratamento é igual a queimadura do
2º grau; o problema principal é a limpeza da superfície queimada, quando esta
se encontra poluída por resíduos carbonizados; neste caso, pode-se empregar
sabão líquido e água ou soro fisiológico mornos; (d) recomendações especiais:
as queimaduras do rosto e partes genitais devem receber curativos de vaselina
esterilizada; as queimaduras de 30% do corpo, sobretudo do tronco, e,
principalmente, na criança, estão sujeitas ao choque e mesmo à morte do
paciente; exigem, portanto, um tratamento no hospital, de preferência em
serviços especializados. As complicações mais terríveis das queimaduras são:
inicialmente, o choque; posteriormente, as infecções, inclusive tetânica, a
toxemia com graves distúrbios gerais, e, finalmente, as cicatrizes viciosas que
deformam o corpo do paciente e provocam aderências.
Socorro aos contaminados por raiva: Os indivíduos com
ferimentos produzidos por animais com hidrofobia (cão, gato, morcego etc.)
devem Ter seus ferimentos tratados de maneiro já referida no item de feridas;
há, todavia, um cuidado especial na maneira de identificar a raiva no animal
agressor, como também de orientar i paciente, sem perda de tempo, para que faça
o tratamento anti-rábico imediato; a rapidez do mesmo será tanto mais imperiosa
quanto maior o número de lesões produzidas e quanto mais próximos da cabeça
tais ferimentos.
Socorro ao asfixiado: Em certos tipos de traumatismo como
aqueles que atingem a cabeça, a boca, o pescoço, o tórax; os que são produzidos
por queimaduras no decurso de um incêndio; os que ocorrem no mar, nos
soterramentos etc. poderá haver dificuldade respiratória e o paciente corre
mais risco de morrer pela asfixia do que pelas lesões traumáticas. Nesse caso,
a identificação da dificuldade respiratória pela respiração barulhenta nos
indivíduos inconscientes, pela falta de ar de que se queixam os conscientes, ou
ainda, pela cianose acentuada do rosto e dos lábios, servirá de guia para o
socorro à vítima. A norma principal é favorecer a passagem do ar através da
boca e das narinas; colocar, inicialmente, o paciente em decúbito ventral, com
cabeça baixa, desobstruir a boca e as narinas, manter o seu pescoço em linha
reta, mediante a projeção do queixo para trás, o que se poderá fazer
tracionando a mandíbula com os dedos, como se fora para manter fechada a boca
do socorrido; se houver vômitos, vira-se a cabeça da vítima para o lado até que
cessem, limpando-lhe a boca em seguida. Não se deve esquecer de colocar o
paciente em ambiente de ventilação adequada e ar puro. A parada respiratória
requer imediata respiração artificial, contínua e incessante, num ritmo de 16
vezes por minuto, até que chegue o socorro médico, não importando que atinja
uma hora ou mais.
Transporte do paciente: Algumas vezes é indispensável
transportar a vítima utilizando meios improvisados, a fim de que se beneficie
de um socorro médico adequado; em princípio, o leigo não deverá fazer o
transporte de qualquer paciente em estado aparentemente grave, enquanto estiver
perdendo sangue, enquanto respirando mal, enfim, enquanto duas condições não
pareçam satisfatórias. O transporte pode por si só causar a morte de um
paciente traumatizado. Tomando em consideração essas observações, devem-se
verificar as condições gerais do enfermo, o veículo a ser utilizado, o tempo
necessário ao transporte. Havendo meios de comunicação, será útil pedir
instruções ao hospital mais próximo. Estabelecida a necessidade do transporte,
torna-se necessário observar os seguintes detalhes: (a) remoção do paciente
para o veículo, o que deverá ser feito evitando aumentar as lesões existentes,
sobretudo no caso de fratura de coluna e de membros; em casos especiais, o
transporte pode ser feito por meio de veículos a motor, padiolas e, mais
excepcionalmente por avião; (b) veículo utilizado: deve atender, em primeiro
lugar, ao conforto do paciente; os caminhões ou caminhonetes prestam-se melhor
a esse mister; (c) caminho a percorrer: é desnecessário encarecer a importância
do repouso dos traumatizados, evitando abalos durante o transporte; pode ser
necessário sustá-lo, caso as condições do enfermo se agravem; (d) acompanhante:
a vítima deve ser acompanhada por pessoa esclarecida que lhe possa ser útil
durante a viagem; (e) observação: o transporte em avião constitui um dos
melhores pela ausência de trepidação e maior rapidez; todavia, a altitude pode
ser nociva para pacientes gravemente traumatizados de tórax, sobretudo se
estiverem escarrando sangue ou com falta de ar.
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